A música consegue se entranhar na realidade da gente e ainda por cima incidir cores. mas a mandala soul tem uma propriedade curiosa. além de ressoar cores e combinações de cores inimagináveis, consegue ser singular. mandala tem sangue azul. de gente que já foi mesmo rei um dia e foi desterrada às custas da tolice humana, tornou-se escrava. no entanto a falta de liberdade não foi obstáculo para que continuasse cultuando suas origens e conservando suas tradições, mesmo tendo que se incorporar a outras. assim também é mandala soul. fiel à negritude, à alma black, mas passiva de mutações. mandala é povo brasileiro. É fruto de raças e sua composição não poderia ser diferente, tem quatro inspirações. o vocalista anselmo parabá tem inclinação ao som brazuca, especialmente aqueles com características folclóricas, com selo popular. já Éder uchoa, o baterista, é cria do fusion, mutante como ele só. pesando a mão na groovera, no contrabaixo wellington andrade esbraveja mpb, enquanto danilo bareiro, na guitarra, dedilha o mais visceral rock e blues. cada um com suas influências coroa com a mesma reverência a black music.se o ritmo faz “viajar”, não há dúvidas que a banda mandala soul deu um giro no arco da lapa para saciar sua sede na fonte da soul music brasileira e num passe de mágica viu-se de pés dançantes fincados em solo cuiabano, e ainda, com a benção do tradicional padroeiro dos negros, são benedito. para traduzir o astral da banda, nada como curtir um som de black. foi aí que descobriu-se qual seria o norte da mandala soul e onde é que isso tudo ainda pode dar. “o black vai crescendo / sua tendência assumindo / a cor negra ta no sangue / a galera ta pedindo o som de black”. e está mesmo. a banda, afinal, é a única dedicada inteiramente a esse estilo. melhor, é referência estadual. tem ainda pergaminho, já foi e alma de nego. esta última foi a responsável pelas influências 40 ° do rio. calor então é o que não falta já que por aqui os termômetros apontam bem mais q isso. fusão quente! e o que é mais importante, essa última cresceu como se deve, seguindo o figurino da black music: ela cresceu em cima do groove do contrabaixo, afinal é ele mesmo o responsável pela ginga alucinante do soul. sai do quadril e vai para a alma.mas por aqui, todo mundo tem ginga mesmo, negro de alma, “numa tranqüila, numa relax, numa boa”, versos eternizados pelo saudoso ícone da soul music brasileira, tim maia.
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