sábado, 15 de setembro de 2007

Toda quinta na casa Fora do Eixo

Release
por Lidiane Barros
A música consegue se entranhar na realidade da gente e ainda po


A música consegue se entranhar na realidade da gente e ainda por cima incidir cores. Mas a Mandala Soul tem uma propriedade curiosa. Além de ressoar cores e combinações de cores inimagináveis, consegue ser singular. Mandala tem sangue azul. De gente que já foi mesmo rei um dia e foi desterrada às custas da tolice humana, tornou-se escrava. No entanto a falta de liberdade não foi obstáculo para que continuasse cultuando suas origens e conservando suas tradições, mesmo tendo que se incorporar a outras. Assim também é Mandala Soul. Fiel à negritude, à alma black, mas passiva de mutações.

Mandala é povo brasileiro. É fruto de raças e sua composição não poderia ser diferente, tem quatro inspirações. O vocalista Anselmo Parabá tem inclinação ao som brazuca, especialmente aqueles com características folclóricas, com selo popular. Já Éder Uchoa, o baterista, é cria do fusion, mutante como ele só. Pesando a mão na groovera, no contrabaixo Wellington Andrade esbraveja MPB, enquanto Danilo Bareiro, na guitarra, dedilha o mais visceral rock e blues. Cada um com suas influências coroa com a mesma reverência a black music.

Se o ritmo faz “viajar”, não há dúvidas que a banda Mandala Soul deu um giro no Arco da Lapa para saciar sua sede na fonte da soul music brasileira e num passe de mágica viu-se de pés dançantes fincados em solo cuiabano, e ainda, com a benção do tradicional padroeiro dos negros, São Benedito.

Para traduzir o astral da banda, nada como curtir um Som de Black. Foi aí que descobriu-se qual seria o norte da Mandala Soul e onde é que isso tudo ainda pode dar. “O black vai crescendo / sua tendência assumindo / A cor negra ta no sangue / A galera ta pedindo o som de black”. E está mesmo. A banda, afinal, é a única dedicada inteiramente a esse estilo. Melhor, é referência Estadual. Tem ainda Pergaminho, Já foi e Alma de Nego. Esta última foi a responsável pelas influências 40 ° do Rio. Calor então é o que não falta já que por aqui os termômetros apontam bem mais q isso. Fusão quente! E o que é mais importante, essa última cresceu como se deve, seguindo o figurino da black music: Ela cresceu em cima do groove do contrabaixo, afinal é ele mesmo o responsável pela ginga alucinante do soul. Sai do quadril e vai para a alma.

Mas por aqui, todo mundo tem ginga mesmo, negro de alma, “numa tranqüila, numa relax, numa boa”, versos eternizados pelo saudoso ícone da soul music brasileira, Tim Maia.


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